Laura Hauser analisa o uso da IA como companheira em um contexto de solidão e precarização da saúde mental
Redação
20 de Outubro de 2025 às 20:33
Laura Hauser, pesquisadora da PUC-SP, investiga como a Inteligência Artificial (IA) está moldando afetos e relacionamentos humanos em um contexto de crescente solidão e precarização da saúde mental. Sua análise destaca o paradoxo de conexões online abundantes, mas relações interpessoais frágeis, levando muitos a buscar companhia em IAs.
Dados recentes indicam que 30% dos brasileiros aceitariam um casamento com uma IA, e três em cada quatro adolescentes consideram relações sexuais com robôs. Essa tendência reflete uma humanização das máquinas e uma diminuição da empatia entre os humanos, levantando questões sobre o futuro das interações sociais.
Hauser participou de debates sobre o impacto da IA no mercado de trabalho e a importância de desenvolver habilidades humanas. Sua pesquisa e publicações buscam ampliar a discussão sobre como a tecnologia redefine expectativas afetivas e laços sociais, propondo uma reflexão crítica sobre a nossa humanidade.
Curadora do KES e pesquisadora do departamento de Comunicação e Semiótica da PUC-SP, onde desenvolve doutorado sobre Inteligência Artificial e seus impactos éticos e comportamentais, Laura Hauser tem se consolidado como uma das vozes mais instigantes no debate sobre tecnologia, cultura e sociedade.
Graduada em História pela Universidade Panthéon-Sorbonne e mestre em Sociologia da Cultura pela Universidade Sorbonne-Nouvelle, Laura também possui formação em “Tecnologia de Mercado na Era Digital” pelo Instituto Holon de Tecnologia de Israel. Além da pesquisa acadêmica, atua como consultora, palestrante e curadora de conteúdo estratégico para alta liderança.
Autora de livros como Políticas Públicas para Cultura (2018) e Apesar de Tudo (Editora Patuá, 2022), Laura tem dedicado sua produção intelectual a refletir sobre como a tecnologia molda comportamentos, relações sociais e imaginários contemporâneos. Em seu novo livro, ainda inédito, a pesquisadora vai aprofundar as conexões entre inteligência artificial, afetos e convivência social.
No doutorado que desenvolve na PUC-SP, Laura investiga como as pessoas recorrem à inteligência artificial para o companheirismo – seja como namorada, amiga, terapeuta ou confidente. Para ela, esse fenômeno está diretamente ligado ao contexto atual de epidemia de solidão e de precarização do acesso à saúde mental.
“Vivemos um paradoxo: temos milhares de amigos online, mas relações cada vez mais frágeis. Isso abre espaço para que a IA seja usada como companhia, ocupando um lugar que vai muito além de ferramenta”, analisa.
Segundo Laura, a IA simula o afeto, mas não o sente. Mesmo assim, a experiência de conversar com uma máquina “sem julgamentos” tem atraído milhares de pessoas – ao mesmo tempo em que levanta questões éticas profundas sobre a substituição de vínculos humanos por vínculos artificiais.
A pesquisadora lembra que uma pesquisa recente mostrou que 30% dos brasileiros aceitariam um casamento com inteligência artificial e que já há casos registrados em países asiáticos. Entre adolescentes, três em cada quatro disseram considerar relações sexuais com robôs.
Essas mudanças expõem uma transformação maior: máquinas estão cada vez mais humanizadas, enquanto os humanos se mostram menos empáticos.
“O que vai acontecerquando nos habituarmos a relacionamentos com IAs que fazem todas as nossas vontades? Quais os impactos para a vida em comunidade?”, provoca Laura.
Laura também participou do painel “IAs Generativas Aplicadas” no CONGREGARH, em Porto Alegre, onde discutiu os efeitos da atual revolução tecnológica para o mercado de trabalho e a importância de desenvolver habilidades humanas – em vez de treiná-las como se fossem competências maquínicas. Ela também destacou o papel estratégico e ético do RH na transição para empresas em que a inteligência artificial vem em primeiro lugar, tema que aprofundou em episódio recente do podcast RH Líder, da ABRHRS.
Em seus artigos, Laura amplia o olhar para além da IA. Em “Da ferramenta ao afeto: os relacionamentos com a IA e o mercado da solidão”, ela analisa como as expectativas de conveniência e personalização criadas pela tecnologia afetam nossa paciência e empatia nas relações humanas. Já em “Rir é o melhor remédio? O que os memes e reels sobre o ambiente de trabalho ensinam sobre nossa realidade”, aponta como o humor nas redes funciona como sintoma e denúncia das contradições da vida corporativa contemporânea.
Com trânsito entre a academia, o mercado e a produção cultural, Laura Trachtenberg Hauser propõe um debate urgente: como a inteligência artificial não apenas muda a forma como trabalhamos e nos comunicamos, mas também redefine nossas expectativas afetivas, nossos laços sociais e nossa própria humanidade.
Assessoria de imprensa Kotschopress